Olá!
Duas críticas, feitas por Viegas Fernandes da Costa, em seu blog, sobre as duas últimas estréias do Teatro blumenauense, "Estrangeiros" e “Amar (e mesmo assim...)”.
Leia e prestigie o teatro local.
Abraços
SÁBADO, 19 DE MARÇO DE 2011
Carla Edilene precisa ser algo além de nada
Carla Edilene precisa ser algo além de nada
Viegas Fernandes da Costa
Carla Edilene (Zanza França) ama seu marido (Leomar Peruzzo), ou pelo menos acredita amar. Construiu suas referências de amor lendo romances de banca e acompanhando programas românticos no rádio. Descobre entretanto que foi traída, e a partir de então a imagem da mulher (Aline Barth), com que seu homem se deitou, a acompanha e tortura. Carla Edilene aprendeu em suas leituras baratas e em seus programas de rádio, que há de se sofrer quando se é traída. Que há de se vingar, também. O conflito que se estabelece na personalidade de Carla Edilene a partir de então, diz respeito ao fato de que diante do seu homem arrependido, que lhe pede perdão e promete amor e fidelidade, a personagem não deve ceder ao seu desejo de reconciliação, afinal, não é assim que acontece nas histórias que lê, nos casos que escuta. Não, há um padrão de luto, de revanche, que precisa ser plenamente experimentado, caso contrário, Carla Edilene será nada, incapaz de sentir, incapaz de machucar e ser machucada. Vingar-se do marido que tanto ama é, acima de tudo, afirmar uma existência, ainda que sob padrões estabelecidos pela mídia barata. E talvez esta seja a grande sacada de “Amar (e mesmo assim...)”, peça que inaugurou a Temporada Blumenauense de Teatro de 2011: problematizar os discursos que impõem aos sujeitos padrões de sentimentos entendidos como corretos. Em seu íntimo tudo que desejava Carla Edilene era agarrar seu homem, tomá-lo em seu corpo, mas não podia, não é isso que se espera de uma mulher romântica. Por isso exigia sofrer para sentir-se digna de si, digna da imagem que sempre projetou para sua vida.
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QUINTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2011
"Estrangeiros"
“Estrangeiros”
Viegas Fernandes da Costa
Foto de Sabrina Marthendal |
Edelweiss é uma flor, mas também uma canção. Alguém lembrará que edelweiss empresta seu nome há muitas outras coisas, e é verdade. Todas, entretanto, remetem à mesma ideia: a do branco precioso, da pureza. Edelweiss, a flor, nasce nos Alpes, em ambiente inóspito, tem o formato de uma estrela e, apesar de ser extremamente branca, retém em sua penugem a umidade do ambiente, o que lhe dá um tom prateado. Como chegou a estar próxima da extinção, hoje esta flor é tombada como patrimônio natural nos países alpinos. Edelweiss, a canção, foi composta em 1959 por Richard Charles Rodgers e Oscar Hammerstein II para o musical “The sound of music”, que conta a história da família austríaca von Trapp, emigrados para os Estados Unidos em 1938. Os von Trapp fugiam do nazismo que se espalhava pela Europa. A tradução da canção original diz: “Edelweiss/ Toda manhã você me cumprimenta / Pequena e Branca / Clara e Brilhante / Você parece feliz por me encontrar / Floco de neve / Que você possa desabrochar e crescer / Desabrochar e crescer pra sempre / Edelweiss / Edelweiss / Abençoe a minha terra pra sempre.” Não é fácil desabrochar e crescer em ambiente inóspito, mas edelweiss – a flor – desabrocha e cresce, e é disso – mas não apenas disso – que trata a peça “Estrangeiros”, cuja pré-estreia aconteceu no dia 24 de fevereiro, sob a direção de Fábio Hostert, com texto de Gregory Haertel e a atuação de Daidrê Thomas e Enzo Monti.
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